A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros de 4,25% para 3,75% foi considerada ponderada, avaliam analistas ouvidos pelo G1. Para eles, embora o Banco Central (BC) tenha indicado como adequado o novo patamar da Selic, a autoridade monetária deixou a porta aberta para mais um corte dos juros diante da incerteza provocada pelo avanço do coronavírus na atividade econômica.
No comunicado divulgado depois do encontro do Copom desta quarta-feira (18), o Comitê afirmou que “neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar”. Mas ressaltou que novas informações sobre “sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos.”
Nas últimas semanas, com a piora do cenário internacional vários bancos centrais reduziram os juros numa tentativa de estimular a atividade econômica. O Federal Reserve (Fed) promoveu cortes em duas decisões de políticas monetárias extraordinárias.
“Ao cortar a Selic em 0,5 ponto percentual, o BC mostrou que decidiu ficar no meio do caminho. Muita gente apostava mais (1 ponto) ou menos (0,25), mas com esse corte a autoridade monetária mostra que optou pela ponderação”, diz o economista e sócio da 4E consultoria, Juan Jensen.
Segundo ele, de um lado, os impactos da disseminação do coronavírus podem enfraquecer fortemente a economia, desacelerando a inflação. Mas, por outro, a agenda de reformas perde força neste momento, com a priorização de medidas de estímulo, cenário que pode elevar os prêmios de riscos do país e, com isso, pressionar os preços.
Contudo, Jensen acredita que a redução em 0,5 ponto percentual é condizente com as metas de inflação para o ano e com o atual cenário.
Agenda de reformas
A ponderação do BC também é considerada apropriada, na leitura dos analistas, justamente porque já há uma incerteza bastante grande com a capacidade de o governo avançar com reformas que garantam a solidez fiscal do país e sejam capazes de melhorar o ambiente de negócios.
Se as reformas não forem adiante, pode haver uma piora ainda maior na percepção de risco dos investidores sobre a economia brasileira, o que pode se traduzir num câmbio ainda mais desvalorizado com fuga de investidores. Juros mais altos podem ajudar a conter essa saída.
“Além do coronavírus, já há uma percepção de risco que tem a ver com ambiente político e no andamento das reformas”, diz a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
Novos cortes
Na leitura dos analistas, o BC deixou a porta aberta para um novo corte nos juros, porque ainda é difícil prever até onde vai a desaceleração da economia provocada pelo avanço do coronavírus.
Nos últimos bancos e consultorias passaram a revisar a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Com a deterioração provocada pelo coronavírus, os economistas já avaliam que a atividade econômica deve recuar no primeiro semestre.
“Não dá para achar que o movimento de juros terminou porque não sabemos até quando vai estar esta crise”, disse Patricia Pereira, especialista da MAG Investimentos.
Jensen, da 4E, aposta em novos cortes e espera que os juros básicos terminem 2020 a 3% ao ano. Além disso, ele não descarta que uma reunião extraordinária do BC possa vir a ocorrer, como o que aconteceu nos Estados Unidos. Em menos de duas semanas, o Fed fez dois cortes surpresas nos juros.
“O Comitê disse que ‘neste momento’ não fará novos cortes. E ‘neste momento’ significa hoje. Mas amanhã tudo pode mudar. O BC e todos nós estamos em um momento de incerteza muito grande”, diz Jensen.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, também espera uma nova redução da Selic nos próximos encontros do Comitê e trabalha com uma projeção de Selic a 3,5% ao final de 2020.
Na leitura do economista, o comunicado do BC enfatizou a preocupação com desaceleração da atividade econômica do país. Para ele, a extensão e o tamanho da redução dos juros daqui para a frente dependerá da divulgação de novos dados da economia a partir de abril.
Agostini projeta dois trimestres negativos neste ano (segundo e terceiro), o que seria uma recessão técnica, mas avalia que as medidas de estímulo anunciadas pelo Ministério da Economia nesta semana possam assegurar, ao menos, que o PIB cresça 0,8% neste ano.
Impacto da redução dos juros
Para Jensen, a redução da Selic deve ter pouco efeito prático neste momento. “Não vai ajudar muito. O custo do crédito para as empresas vai diminuir, mas, ao mesmo tempo, o risco de empréstimo está aumentando. Os bancos vão segurar [as concessões de crédito]”, diz o economista.
“O que poderia ser feito, talvez, é a criação, por parte dos bancos públicos, de novas linhas de financiamento para as empresas, especialmente para capital de giro”, acrescenta.
A 4E reduziu, nesta semana, a projeção de crescimento do PIB do Brasil de 1,8% para uma estabilidade.
Fonte G1.GLOBO.COM
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