5 dezembro, 2024

Paralisações de montadoras e queda do preço de usados: para onde vai a indústria automobilística?

Desde a pandemia, o mercado automotivo no Brasil vem enfrentando uma série de paralisações, quedas nas vendas e interrupções nas linhas de produções. Recentemente, até os veículos usados, que sofreram grande valorização, viram seus preços caírem nos últimos meses.

Com isso, um sinal de alerta está acesso no setor automobilístico. Com a alta nos juros e o endividamento da população, o crédito para comprar um veículo, novo ou usado, está cada vez mais difícil. E o que o futuro aguarda para o setor?

Taxa de juros é vilão do momento

A semana começou com três grandes empresas suspendendo a produção e dando férias coletivas aos seus funcionários: General Motors, Hyundai e Stellantis (proprietária das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën). Apesar da falta de peças ainda rondar o setor, o principal motivo para as paralisações é a desaquecimento no mercado, o que faz que a indústria evite ficar com grandes estoques e deixe de produzir.

Para Alessandro Azzoni, advogado, economista e Conselheiro Deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a taxa de juros elevada se tornou o principal entrave para as vendas voltarem a deslanchar.

“A taxa de juros atinge diretamente a venda final, já que a maioria das pessoas não compram o carro à vista, compra o carro financiado, usando uma entrada e o saldo restante é financiado. Então os juros nesse patamar é um freio para compra de veículos. De acordo com o boletim Focus da última segunda-feira (20), estamos com um previsão de inflação de 5,96%, então acredito que uma Selic a 8 ou 9% seria mais condizente que os 13,75% atuais.”, disse.

Marcelo Gabriel, professor do Programa de Pós-graduação em Administração da ESPM, também vê na taxa de juros o “vilão da vez” para a indústria automobilística, que busca mercados alternativos para sua produção.

“Neste momento o impacto da taxa de juros real se reflete em todas as decisões de compra do consumidor e essa situação impacta todos os setores da economia, inclusive o automotivo. Nestes cenários as escolhas são priorizadas e a decisão pela compra do veículo novo é postergada. Por outro lado, temos uma capacidade instalada para produzir de 3,5 a 4 milhões de veículos por ano e os resultados da Anfavea mostram que foram vendidas 2,1 milhões de unidades em 2022”, explica.

Governo vai intervir?

Com este cenário, é esperado alguma movimentação do governo, seja um incentivo através da redução da carga fiscal para veículos num primeiro momento e uma tentativa de agilizar a reforma tributária na sequência, já que os tributos tem um impacto muito grande no valor final de um carro 0km.

Para Arezzo, a expectativa é que ocorra um incentivo em breve, até pela ligação do governo atual com a indústria automobilística. “No passado, o governo Lula promoveu incentivos a linha branca e a indústria automobilística, por exemplo, o que alavancou as vendas. Então, o governo deve refazer os mesmos processos. Mas, com a taxa de juros alta, mesmo que o governo promova algum incentivo, é como se você ganhasse e perdesse ao mesmo tempo”, analisou.

Podemos ter uma “nova Ford?”

Com um cenário não tão favorável para as empresas do setor automobilístico, ocorre o temor de uma marca deixar o país como ocorreu com a Ford, que fechou suas fábricas no Brasil em janeiro de 2021 e passou a comercializar apenas produtos importados.

Segundo Gabriel, a chance de uma outra player do segmento fechar sua linha de produção é difícil. “A linha de produtos da Ford no mundo está orientada para o mercado de picapes como a Ranger e a F-150 de influência americana, enquanto os modelos hatch e sedan como Ka e Fiesta vinham de plataformas europeias. Mesmo o Ecosport, que foi desenvolvido no Brasil sob a plataforma do Fiesta e exportado, seguiu a mesma lógica de alinhamento de produtos. Não entendo que exista a possibilidade no médio prazo da saída de alguma montadora do país. O que veremos é a adaptação da oferta à realidade socioeconômica brasileira, a exemplo do que faz a Renault que produz no Paraná os modelos Dacia, desenvolvidos para as necessidades de países emergentes”, explicou o professor.

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